terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

BIG vence concurso para a expansão do Kimball Art Center, nos Estados Unidos


Mauricio Lima

   O escritório dinamarquês Bjarke Ingels Group (BIG) venceu mais um concurso, dessa vez para a expansão do Kimball Art Center, na cidade de Park City, em Utah, nos Estados Unidos.   O projeto vencedor propõe um conjunto "empilhado" de duas galerias, uma voltada para a rua principal da cidade, Main Street, e a outra para a Heber Avenue.


Divulgação: BIG
Fachada será feita com madeira empilhada

   O design do edifício resulta em forma semelhante a uma espiral, com mais de 24 m de altura. Para a fachada do prédio, os arquitetos se inspiraram nas antigas referências da cidade, como as minas de carvão e o método de construção passado, de empilhamento de madeira para a criação de muros de contenções.

   O desenho da fachada é refletido no interior, onde uma escada em espiral guia os visitantes para o terraço, que pode ser utilizado para exibições e eventos.   O edifício contará com claraboias para permitir a iluminação das paredes das galerias internas.

   Entre as duas galerias, localizadas no térreo e no terceiro andar, um restaurante se abre para o novo jardim sobre a cobertura do edifício que funciona como a atual sede da Kimball Art Center. O edifício atual será transformado em uma área educacional, como parte complementar do novo prédio, contando com um auditório com pé direito duplo no seu centro, que se abre durante o verão para que as exibições sejam vistas do lado de fora. A cobertura também receberá painéis solares.

Com relação à sustentabilidade, o prédio deverá alcançar a certificação LEED Platinum. O aquecimento do edifício será praticamente todo natural, assim como a iluminação e a ventilação. Projeto também prevê sistema de reaproveitamento de água de chuva.


Divulgação: BIG
Galerias são voltadas para as duas ruas principais do local


Divulgação: BIG
Segundo andar será ocupado por um restaurante


Divulgação: BIG
Escada interna segua a linha da fachada


Divulgação: BIG
Galerias serão iluminadas pelas claraboias na cobertura


Divulgação: BIG
BIG foi escolhido entre cinco finalistas

Divulgação: BIG
Novo edifício será conectado com o existente

Fonte: aU

Projeto de lei estabelece a fiscalização periódica de edificações em todo o país


Mauricio Lima


Shutterstock
A Comissão de Desenvolvimento Regional e Turismo (CDR) do Senado está analisando o Projeto de Lei do senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), que exige a realização periódica de fiscalizações em edifícios e cria também um laudo para a inspeção nessas edificações.  O PLS 491/11 inclui qualquer tipo de edificação, menos barragens e estádios de futebol, que já contam com uma legislação específica nesse sentido.
"É uma preocupação que carrego pela profissão que exerci durante anos e anos da minha vida construindo edifícios e, depois, como professor de universidade na cadeira de materiais de construção.   A estrutura de concreto armado não é uma estrutura que garanta a estabilidade do prédio sem manutenção.   O concreto é uma rocha artificial", disse Crivella, engenheiro de formação.

Segundo o projeto, "o objetivo da inspeção é efetuar o diagnóstico da edificação por meio de vistoria especializada, utilizando-se de laudo para emitir parecer acerca das condições técnicas, de uso e de manutenção, com avaliação do grau de risco à segurança dos usuários".

De acordo com o senador, a proposta inicial era que edificações com mais de 30 anos fossem fiscalizadas a cada cinco anos.   Mas, seguindo sugestões do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), o relator do projeto, senador Zezé Perrela (PDT-MG), propôs uma emenda para que as fiscalizações sejam realizadas com os seguintes parâmetros: a cada cinco anos, para edificações com 30 anos ou mais; de três em três anos, para edificações com 40 anos ou mais; a cada dois anos, para edificações com 50 anos ou mais; e anual, para edificações a partir de 60 anos.

A inspeção seria feita por um profissional registrado no sistema Confea/Crea, que produziria um Laudo de Inspeção Técnica de Edificação (Lite), com a avaliação da conformidade da edificação de acordo com a legislação e as normas técnicas pertinentes; explicitação dos tipos de não conformidade encontrados, do grau de risco a eles associado e da necessidade de interdição, se for o caso; prescrição para reparo e manutenção, quando houver, da edificação inspecionada; e assinaturas do(s) inspetor(es) encarregado(s) do Lite e do proprietário ou responsável pela administração da edificação.

A expectativa, segundo Crivella, é que, após aprovação pela CDR, o projeto siga para a Câmara dos Deputados e depois à sanção presidencial até junho. Após a publicação, a lei deve entrar em vigor em 180 dias.

Fonte: téchne

Projeto de revitalização da orla do rio Guaíba, em Porto Alegre.


Mauricio Lima

   O arquiteto Jaime Lerner apresentou, na última quarta-feira (15), o projeto para a revitalização da orla do rio Guaíba, em Porto Alegre, durante uma reunião da Comissão de Análise Urbanística e Gerenciamento (Cauge).  O projeto prevê espaço para quiosques, deques, ciclovia e marina pública.


Divulgação: Prefeitura de Porto Alegre
Intenção do projeto é atrair moradores para o espaço
 

   Praticamente todo o trajeto de 1,5 km contará com arquibancadas formadas a partir do relevo natural do terreno, criando espaços de convivência.   Concentradas nas pontas e no centro do trajeto, as arquibancadas seguirão o curso do rio, criando formas onduladas.   O projeto ainda prevê a iluminação de toda a área, para que a região da orla possa ser utilizada nas 24 horas do dia.

   Para o chão, o arquiteto propôs o emprego de pavimento de concreto com bolas de gude.   Em contraste com a iluminação inclinada, as bolas de vidro refletirão os raios de luz.   A vegetação será adequada para que, ao nível da rua, não haja interferência visual.   Essa, inclusive, é uma das principais características buscadas pelo arquiteto.

   Uma das premissas do projeto era evitar altos custos de manutenção.   Por isso, o arquiteto dispensou grandes instalações e favoreceu os espaços abertos, que transformam o local em um parque.   "Criamos um projeto de ecoarquitetura, que aproxima as pessoas e fortalece a ideia de um parque no local", enfatizou Lerner, que já é responsável, em parceria com o escritório espanhol b720, pelo projeto de revitalização do Cais Mauá, situado bem próximo da orla.

   Segundo a prefeitura, a partir de agora será iniciado o processo de Estudo de Viabilidade Urbanística (EVU) para a primeira etapa de revitalização da orla.   A previsão é de que a prefeitura abra licitação para a execução das obras até o final deste semestre.


Divulgação: Prefeitura de Porto Alegre
Arquibancadas seguirão o relevo natural do terreno


Divulgação: Prefeitura de Porto Alegre
Trajeto de 1,5 km será revitalizado

Divulgação: Prefeitura de Porto Alegre
Piso de concreto terá bolas de gude para refletir a iluminação

Fonte: aU

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Parte de edifício desabou em São Bernardo do Campo e matou uma criança. Presidente do conselho levantou hipóteses técnicas para acidente.

Vista interna dos pavimentos que desabaram  (Foto: Tiago Queiroz/AE)Vista interna dos pavimentos que desabaram no
prédio (Foto: Tiago Queiroz/AE)















   Sobrepeso ou má conservação do teto do Edifício Senador em São Bernardo do Campo, no ABC, ou ainda a combinação desses dois fatores podem ter contribuído para o desabamento parcial das lajes do prédio de 14 andares na noite de segunda-feira (6).   A afirmação é do presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado de São Paulo (Crea-SP), Francisco Kurimori
.
   Um buraco de cerca de 10 metros de diâmetro se abriu no teto atingindo todas as lajes inferiores até o térreo.   Uma criança morreu, seis pessoas ficaram feridas e uma mulher estava desaparecida até as 14h desta terça (7) por conta do desabamento.

   “Em termos técnicos, as suspeitas são de sobrecarga, algo pode ter sido colocado em cima do teto, ou má conservação.   O prédio tem 40 anos e pode ter havido uma infiltração de água que fez ruir a laje superior, que caiu sobre as demais em sequência.   Ou pode ter havido essa combinação desses fatores”, afirmou Kurimori ao G1.

   Engenheiro civil e construtor, o presidente do Crea-SP disse que perícia da Polícia Técnico Científica e avaliação dos bombeiros dirão quais foram as causas do desabamento.   “Mas pelo que vi nas imagens da TV e nas fotos dos sites, dá para deduzir que o teto do último andar, por motivo desconhecido, cedeu.   E caiu sobre o pavimento inferior provocando um impacto que ruiu esse pavimento e consequentemente o pavimento debaixo.   Foi um efeito dominó até chegar ao térreo”, falou Kurimori.

   “Tudo na vida tem prazo de validade.   Com prédio não é diferente.   Prédio tem prazo de validade também.   Por isso é importante haver inspeção predial de um engenheiro credenciado de cinco em cinco anos, algo que só ocorre em algumas cidades do estado.   Não é o caso de São Bernardo do Campo, por exemplo”, comentou o presidente do Conselho Regional de Engenharia.
Crea-SP
   O Crea-SP também instaurou nesta terça um processo ético e administrativo para tentar identificar os engenheiros que realizaram trabalhos no Edifício Senador e apurar a conduta deles e eventuais responsabilidades no episódio.   De acordo com a assessoria de imprensa do Crea-SP, diretores da regional no ABC foram ao local do desabamento tirar fotos do prédio comercial de 14 andares e dos destroços das lajes que ruíram.
   Segundo o Crea-SP, o procedimento administrativo que os engenheiros serão submetidos é chamado de "processo de sinistro".   Além dos depoimentos dos profissionais, serão reunidos documentos do imóvel avariado, dos envolvidos diretamente na sua construção ou que tenham acompanhado eventuais mudanças, ou feito obras no edifício nos últimos anos.   Também serão requisitados documentos de Anotação de Responsabilidade Técnica (ART) do prédio e laudos dos bombeiros e da Polícia Técnico Científica sobre as condições do edifício e prováveis causas da queda.   Somente após a compilação de todo esse material é que o Crea irá se pronunciar a respeito da possível culpa ou não dos engenheiros.
   Caso fique comprovada alguma falha dos profissionais, eles poderão ser punidos administrativamente pelo Conselho, com advertência ou suspensão da autorização para trabalhar.   “Será verificado se os engenheiros cometeram imperícia, imprudência ou se foram negligentes”, afirmou Kurimori.
Polícia Civil   Além da apuração no âmbito administrativo, os engenheiros poderão ser investigados na esfera criminal.   A Polícia Civil em São Bernardo instaurou inquérito para investigar as prováveis causas e eventuais responsabilidades no desabamento.   As causas do colapso na estrutura do edifício ainda são apuradas pela Polícia Técnico Científica.   O laudo deverá sair em 30 dias.   Enquanto isso, o Ministério Público vai acompanhar a apuração policial e instaurar inquérito civil sobre o caso.
   De acordo com o delegado Victor Vasconcellos Lutti, titular do 1º Distrito Policial, em São Bernardo do Campo, onde o caso foi registrado, dentre as prováveis hipóteses para explicar o desabamento está sendo investigado se uma suposta obra num dos andares poderia ter causado a queda das lajes, com o acúmulo de entulho.   O delegado descartou a possibilidade de qualquer explosão de gás ter provocado o desabamento e irá apurar se os crimes de desabamento e homicídio foram provocados por dolo (quando se assume o risco) ou culpa (sem intenção).
Fonte: G1

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Engenharia Diagnóstica



Engenharia x medicina
A contribuição da Medicina na Engenharia Civil vai além das questões patológicas, pois há outras similaridades dessas ciências a favorecer a prevenção e o diagnóstico 

Os compartilhamentos de conhecimentos dessas duas importantes ciências, representadas pela Engenharia e Medicina, ultrapassam os aspectos científicos, pois se efetivam na prática, na realidade do dia-a-dia, favorecendo melhor aplicação e a aceleração no desenvolvimento das duas atividades.


A tecnologia favorece a cura e prevenção das doenças pela Medicina e o milenar conhecimento médico favorece a qualidade dos produtos de Engenharia, recomendando a correlação e o mútuo compartilhamento dessas imprescindíveis ciências para a humanidade, consideradas até mesmo como artes, talvez, pela criatividade inerente às duas atividades.


Assim sendo, nada mais natural e recomendável do que a reciprocidade no compartilhamento dos conhecimentos dessas artes/ciências, pois são inúmeras as experiências positivas com efetivas aplicações favoráveis para a Medicina e Engenharia.


Os exemplos da correlação e compartilhamento de conhecimentos são inúmeros, podendo-se destacar alguns pelo lado médico, tais como a renomada Medicina Nuclear, que é o ramo da medicina em que se utiliza da tecnologia nuclear da física, química e engenharia com finalidade diagnóstica e terapêutica; a Medicina Astronáutica, ligada às explorações do espaço cósmico; a Medicina Ortomolecular, que também se utiliza da engenharia química na análise de substâncias; a Medicina Preventiva, que requer um plano de manutenção corretivo e preventivo com tecnologia da Engenharia de Manutenção e a Medicina Diagnóstica que se utiliza de sofisticados equipamentos produzidos pela engenharia, na realização dos mais variados exames.


Do outro lado, aproveita-se a engenharia dos milenares conhecimentos de curar e prevenir doenças da Medicina com a saúde humana, desta feita adaptandoos para prevenir e corrigir anomalias e falhas de seus produtos. As Engenharia de Produção e Industrial seguem roteiros cirúrgicos; a Engenharia de Alimentos e a Engenharia de Segurança se baseiam nas prescrições de prevenção e primeiros socorros da Medicina, além de tantas outras correlações nas demais especialidades da engenharia.


Cabe registrar que as similaridades dos objetos de estudos das duas ciências, o homem e uma edificação, por exemplo, incluem até mesmo seus componentes, pois os esqueletos comparam-se às estruturas, as musculaturas às alvenarias, a pele aos revestimentos, o sistema circulatório com as instalações elétricas e hidráulicas, o aparelho respiratório com o sistema do ar condicionado, além de outras convergências, reforçam ainda mais a identidade da Engenharia à Medicina, em vários aspectos.


Destaca-se a correlação da Engenharia Civil com a Medicina, principalmente, nos estudos relativos à reparação e prevenção de anomalias construtivas das edificações, havendo, inclusive, a conhecida disciplina Patologia das Construções. Porém, a contribuição da Medicina na Engenharia Civil não se limita às questões patológicas, pois há outras similaridades das ciências a favorecer a prevenção e o diagnóstico, motivo da ampliação dessa correlação com a criação de nova disciplina, mais ampla, uma verdadeira Engenharia Medicinal.


Além dos estudos patológicos, as similitudes das ciências avançam também nos procedimentos preventivos e terapêuticos, mas levando-se em conta que a prioridade nessas convergências incide nos diagnósticos das anomalias construtivas e falhas de manutenção das edificações, preferiu-se adotar a denominação Engenharia Diagnóstica em Edificações para a nova disciplina, que também inclui as anamneses, os prognósticos e as prescrições. Nesse sentido, cabe apresentar as novas terminologias e conceitos, todos baseados naqueles tradicionais da Medicina, podendo-se apresentar os seguintes:


  • Engenharia Diagnóstica em Edificações - a arte de criar ações pró-ativas, pelos diagnósticos, prognósticos e prescrições técnicas, visando qualidade total da edificação
  • Anamnese Técnica da Edificação - dados coletados sobre o início e evolução da anomalia construtiva ou falha de manutenção, desde a concepção do projeto até a data da vistoria ou inspeção
  • Diagnóstico Técnico da Edificação - determinação e indicação das anomalias construtivas e falhas de manutenção, mediante auditorias, ensaios laboratoriais e perícias
  • Prognóstico Técnico da Edificação - indicação das ocorrências vindouras nas anomalias construtivas e falhas de manutenção em consonância à correspondente prescrição da consultoria
  • Prescrição Técnica da Edificação - indicação dos reparos das anomalias construtivas e falhas de manutenção da consultoria
  • Sintomatologia Técnica da Edificação - constatações e análises dos sintomas e condições físicas das anomalias construtivas e falhas de manutenção
  • Etiologia Técnica da Edificação - determinação dos efeitos, origens, causas, mecanismos de ação, agentes e fatores de agravamento das anomalias construtivas e falhas de manutenção
  • Terapêutica da Edificação - estudos das reparações das anomalias construtivas e falhas de manutenção
  • Patologia da Edificação - estudo que se ocupa da natureza e das modificações das condições físicas e/ou funcionais produzidas pelas anomalias construtivas e falhas de manutenção, por meio de auditorias, perícias e ensaios técnicos

  • Deve-se esclarecer que a denominação "edificação" inclui também as fases de planejamento, projeto e execução da mesma, pois as ações preventivas visando evitar defeitos nessas fases, tal qual aquela da gestação humana, também favorecem a qualidade total, motivo da importância da Engenharia Diagnóstica desde a concepção da edificação. Tal procedimento de estudo completo da edificação, desde sua concepção, visa evitar a ocorrência de anomalias construtivas e, também, minimizar as falhas de manutenção da posterior fase de uso da edificação, pelas ferramentas técnicas representadas pelas vistorias, inspeções, auditorias, perícias e consultorias.


    Assim, é importante se apresentar os quadros e fluxogramas que permitem visualizar e comprovar a adequação da correlação Engenharia-Medicina que gerou a Engenharia Diagnóstica em Edificações (confira os quadros e fluxogramas).


    Finalmente deve-se registrar que a correlação da Engenharia Civil com a Medicina é tão promissora quanto aquelas já consagradas dessas duas artes com o Direito, mesmo porque a integração e correlação dessas três ciências favorecem os aprimoramentos da saúde, progresso e justiça entre os homens.


    Tito Lívio Ferreira Gomide diretor do Gabinete Gomide

    sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

    Presidente da Abece não acredita em crise na engenharia


    O engenheiro Eduardo Barros Millen afirma que é hora de repensar e mudar os fatores que indiretamente contribuem para os colapsos nas construções.  Para Millen, a qualidade da engenharia brasileira é o que ainda impede um número maior de acidentes


    Kelly Carvalho
       Na última década, o Brasil presenciou uma série de colapsos de edifícios novos, antigos e obras de infraestrutura que repercutiram negativamente no setor da construção.   A recente queda de três prédios no Rio de Janeiro, na última quarta-feira (25), do edifício em obras Real Class em janeiro de 2011, em Belém, e a queda de vigas de 85 t de um viaduto em obras no trecho sul do Rodoanel Mario Covas, em São Paulo, atingindo dois carros e um caminhão, são apenas alguns dos exemplos dos acidentes recentes.   Há muito tempo, lideranças e representantes setoriais vêm denunciando os problemas que indiretamente têm contribuído para esses desabamentos, como a má qualificação de mão de obra, prazos apertados, custos reduzidos, fiscalização inadequada e falta de manutenção.   Nessa entrevista, o engenheiro estrutural Eduardo Barros Millen, presidente da Abece (Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural), fala sobre segurança das construções, projetos, prazos, exercício profissional e fiscalização. Confira:

    Divulgação: Abece
    A engenharia brasileira está em crise?
        Não há crise em nossa engenharia com relação à segurança. Pelo contrário, porque temos engenheiros de alto nível técnico, não deixamos nenhuma crise se estabelecer. Mas temos de tomar providências, pois a engenharia está atendendo necessidades e prazo, embora com dificuldades, e isso poderia ser melhorado.   Não estamos tendo mais acidentes porque a engenharia brasileira é de excelente qualidade.   Senão, o número de acidentes seria muito maior.  A engenharia brasileira está no mesmo nível das grandes escolas do mundo.   Perdemos um pouco com relação a equipamentos, mas a teoria de projeto e execução estão no patamar mais alto.

    Mas nos últimos anos, verificamos uma sucessão de desabamentos de edifícios antigos e em execução, além de problemas com obras de infraestrutura.   Esses colapsos estão aumentando?
       Não é só impressão, há um aumento gradativo desses eventos desastrosos.  Como razão imediata, em consequência de algum erro de execução, de reforma eventualmente, de obras em construção.   Mas essas são causas imediatas, temos que pensar um pouco mais nas causas conjunturais.   Deve haver uma mudança de atitude dos profissionais, contratantes particulares ou governo e também do usuário final.   Todo mundo tem que fazer um exame de consciência e mudar.

    De uma forma geral, vemos uma série de problemas relacionados à qualificação profissional, manutenção e fiscalização.   Como resolver todos esses aspectos para melhorar a segurança das construções?
       Devemos começar pela própria formação dos engenheiros.  
    Nos últimos anos, as escolas de engenharia têm reduzido o número de horas-aula.   Um período de cinco anos já era pouco, mas as escolas têm graduado esses profissionais com quatro anos de curso, sem uma formação completa.   O engenheiro sai de uma escola e vai trabalhar.   Em qualquer lugar sempre haverá um prazo a cumprir e ele terá de se acostumar à forma de trabalho daquele local.   Com formação adequada, ele tem base para se adaptar, caso contrário, terá muita dificuldade.   Além disso, essa formação está muito genérica, sem as funções bem determinadas.   A engenharia está evoluindo e as escolas não estão formando para essa evolução.   Do ponto de vista escolar, tinha de haver estágios obrigatórios na área de atuação que o aluno pretende seguir.   Por exemplo, se o aluno quisesse trabalhar em estruturas, precisaria ter estágio obrigatório nessa área.   Isso teria que fazer parte do currículo.

    Como o senhor vê a regulamentação do exercício profissional atualmente?
       
    O Crea, como órgão regulador, não poderia dar um diploma e credencial para um recém-formado com os mesmos atributos de um profissional com 40 anos de experiência.   Alguém com até cinco anos de experiência tem determinada possibilidade de assumir algum tipo de trabalho, mas nunca poderia, por exemplo, assumir a responsabilidade técnica de uma barragem.   Precisa haver uma limitação de responsabilidade.   Temos visto muitas construções sob responsabilidade de recém-formados porque não há mão de obra suficiente, mas esse engenheiro não tem a experiência necessária.


    Mesmo com a carência de mão de obra, é senso comum no setor que a remuneração é baixa e tem prejudicado a qualidade das obras.
       Temos deficiência de mão de obra porque a engenharia ficou sucateada por 20 anos, a partir da década de 1980.   E ficamos esse período sem formar muitos engenheiros.   Com essa falta de mão de obra, o nível salarial melhorou, mas está longe de ser coerente com a responsabilidade que assume um profissional de engenharia.   Fazer um projeto estrutural, definir o aço, concreto e receber menos de meio por cento do valor da obra é uma afronta à engenharia e aos profissionais.   É preciso pagar bem para que esse profissional trabalhe num regime normal, de oito horas.   Vemos profissionais trabalhando 12 horas por dia para sobreviver.   Isso cansa o engenheiro, mas porque ele é bom profissional e tem muita responsabilidade, está trabalhando e fazendo o máximo para cumprir os prazos exigidos.


    Os prazos curtos também têm prejudicado o setor?
       Ninguém mais quer fazer obra em prazo natural.   O concreto, por exemplo, é um material que tem tempo para enrijecer e conferir a segurança necessária.   Esse tempo tem sido reduzido pelos avanços na tecnologia do concreto, mas mesmo assim, os prazos têm de ser reestudados.
    A data de entrega da obra não pode ser diminuída por ganância, e as obras públicas não podem ser finalizadas com base nos prazos de campanhas políticas.   Isso está errado.   Vários desses estádios em construção terão problemas estruturais no futuro, porque estão sendo feitos de maneira muito veloz, sem os cuidados e critérios necessários.

    Mas esse não é também um problema com relação à fiscalização? O que fazer minimamente para garantir a segurança nas construções?
       Já faz parte da cultura internacional que o escritório que projeta passe seu trabalho para que outro escritório independente faça a verificação.   No Brasil, esse procedimento está um pouco mais comum, mas ainda há profissionais de projeto que desconfiam quando outro faz essa verificação, como se quisesse denegrir seu trabalho.   Não é nada disso.   Essa argumentação é pouco resistente.   Também é preciso tomar os devidos cuidados com programas computacionais. Computador é imprescindível, ninguém mais trabalha sem usar programas de calculo, execução, controle e gerenciamento, mas esses sistemas devem ser trabalhados com inteligência humana. Se o profissional não fizer uso dessas ferramentas de acordo com os critérios do programa, o resultado pode ser uma bobagem.   E por falta de experiência, o engenheiro joga a informação no computador e ele acredita que o resultado está perfeito.   É preciso fazer análise critica do resultado e só quem tem experiência pode fazer essa análise crítica.   E isso não está sendo feito.   Falta tempo, prazo, às vezes sai algo sem a devida verificação.

    E quanto à fiscalização de obras?
       Na obra é a mesma coisa.   Executando, tem que ter uma fiscalização, mas não como a de hoje,  só para fazer medição.   Ninguém se preocupa em saber se o concreto é adequado, se a armação está na posição correta, essas questões...

    De que forma essa fiscalização deveria estar estruturada?
       Devia existir algum mecanismo para exigência de fiscalização.   Assim como a prefeitura exige, por exemplo, um alvará para construção, deveria exigir a responsabilidade de alguém que vai verificar a obra.   Pode ser que não funcione, porque tem o engenheiro "canetinha", que assina e nem vai ver a obra - esses profissionais são um câncer para a engenharia - mas poderia ser feita uma verificação.   Deveria ser feita uma concorrência para projeto e uma concorrência para verificação do projeto.   É uma segurança a mais.   Algumas autarquias do governo fazem esse tipo de verificação, como o metrô, que tem uma equipe técnica, embora sejam sobrecarregados, assim como Infraero, DER, pessoal de controle de barragens, mas a gente sempre nota que são profissionais com muito trabalho para fazer e com prazos apertados.   É aquela pressão ruim.

    De quem deveria ser, afinal, esse papel fiscalizador?
       O poder público tem que organizar esse mundo todo.   A fiscalização deveria ficar dentro de sua competência.   Hoje o poder público recebe anteprojetos de arquitetura e aprova a execução da obra.   A prefeitura não exige projetos executivos.   Essa é uma luta de anos das entidades, para que as obras sejam contratadas por projeto executivo, porque haverá muito mais segurança.   Em casos de prédios mais novos, como o de Belém do Pará que caiu durante a construção, há um projeto executivo, pode-se buscar informações com o projetista ou a construtora para descobrir as razões da queda e evitar essas causas.   Mas a prefeitura deveria ter esses projetos.   Se daqui a 30 anos cair um prédio, a prefeitura não terá um projeto executivo. Veja o caso do desabamento no Rio de Janeiro. Então, a exigência desses projetos é uma necessidade.

    No caso específico do desabamento de três edifícios no Rio de Janeiro, o primeiro que caiu teria sofrido uma série de intervenções ao longo dos anos, como acréscimo de pavimentos, aberturas de vãos em empenas cegas, entre outros.   Essas reformas poderiam ter sido feitas, antes mesmo da última intervenção que teria causado o colapso?
       A reforma que estava em andamento é considerada a causa mais provável, não importa se o prédio tinha mais ou menos pilares.   Seguramente algum fato que ocorreu causou o colapso.   Se o prédio estava lá ate hoje, alguma resistência tinha.   Estava com a estrutura adequada e estável, porque ficou anos lá.   Mas foi feita alguma modificação, na minha interpretação, alguma coluna foi afetada.

    A  prefeitura poderia ter evitado esse colapso se soubesse da reforma?   Para qualquer reforma, é obrigatória a obtenção de autorização da prefeitura.   Mas a prefeitura vai observar a área em que será realizada a reforma, se não haverá uma invasão de calçada, por exemplo, mas não vai verificar a parte estrutural.   Então, não ia adiantar nada se a prefeitura tivesse recebido essa solicitação.

    Relembrando:
    Agência Brasil
    Edifícios no Rio de Janeiro
    Na última quarta-feira (25), três edifícios desabaram na cidade do Rio de Janeiro, causando a morte de pelo menos 17 pessoas.   As causas do acidente ainda não foram descobertas, mas a principal hipótese é que obras irregulares no edifício tenham causado o rompimento da estrutura.

    Agência Pará
    Edifício Real Class

    O edifício de 34 andares na cidade de Belém desabou, ainda em obras, em janeiro de 2011, soterrando uma mulher e dois operários.   Segundo o laudo do Centro de Perícias Renato Chaves (CPC), havia falhas no projeto estrutural, erro de concepção no modelo matemático e não cumprimento de normas administrativas.

    RodoanelEm novembro de 2009, três vigas de 85 t e cerca de 40 m de comprimento caíram do viaduto em obras no trecho sul do Rodoanel Mario Covas, sobre a rodovia Regis Bittencourt, atingindo dois carros e um caminhão.

    Michele Sales/Emgerpi
    Barragem de Algodões

    A barragem de Algodões, no Piauí, se rompeu em maio de 2009, alagando a cidade de Cocal da Estação.   A ocorrência foi causada pelo excessivo volume de água, que ultrapassou os 52 bilhões de litros.   A força da água cortou a estrada e abriu uma cratera de mais de um quilômetro.

    Divulgação: IPT
    Estação Pinheiros do Metrô

    Em janeiro de 2007, o desabamento nas obras da Estação Pinheiros do Metrô, em São Paulo, resultou na abertura de uma cratera de 80 m de diâmetro por 30 m de profundidade, que "engoliu" quatro caminhões, dois carros, uma van e abalou estruturas de edificações vizinhas.   Sete pessoas morreram no acidente.

    Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
    Represa do Capivari
    Queda de parte da ponte sobre a represa do Capivari, na BR-116, no Paraná, em janeiro de 2005.   Segundo relatório feito pela perícia na época, a ocorrência foi motivada pelo excesso de chuvas, deficiência do sistema de drenagem na cabeceira e deslocamentos de grandes volumes de terra.


    Fonte: téchne

         Muito boa a entrevista com o Dr. Eduardo Barros Millen e gostaria de salientar seu comentário sobre as faculdades que estão graduando em  quatro anos.   Isto é um crime!   O MEC deveria reavaliar todos os cursos de engenharia e fechar a metade deles.     Engenharia deveria ser integral e durar pelo menos sete anos!     
         Outro ponto crucial é a fiscalização por parte do poder público.   Neste quesito é mais que necessário que haja departamentos, unidades e até um ministério da Engenharia.     É de suma importância que inúmeros setores governamentais sejam ocupados somente por engenheiros.

    Engº. Alberto Cohen Filho



    quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

       A Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli/USP) tem mais de um século de história, formando gerações de engenheiros que têm se destacado não só em suas especialidades profissionais, mas também na vida política do País e na administração de empresas e de órgãos públicos. Fundada em 1893, a então denominada Escola Politécnica de São Paulo foi incorporada à USP em 1934; hoje ela é referência nacional e considerada a mais completa faculdade de Engenharia da América Latina.




    Fonte: Escola Politécnica da Universidade de São Paulo
                        Formando engenheiros e líderes




         Engenharia é profissão de liderança.  
    Engº. Alberto Cohen Filho