segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Toyo Ito lidera projeto para reconstrução de casas em áreas devastadas por tsunami no Japão

Protótipo de habitação será apresentado no pavilhão japonês da Bienal de Arquitetura de Veneza em 2012


Mauricio Lima

   O papel da arquitetura após um desastre é o tema do pavilhão japonês na Bienal de Arquitetura de Veneza 2012, que deve retratar habitações para a reconstrução de Kamaishi, no Japão, após o terremoto e o tsunami que devastaram a cidade oito meses atrás.

Divulgação: Toyo Ito
Protótipo construído em Sendai, que também foi atingida

   O projeto de reconstrução, denominado "Home For All", é liderado pelo arquiteto Toyo Ito, comissário da Fundação Japonesa.  "Depois de tudo que aconteceu, as atividades cotidianas tiveram que ser retomadas nesses locais.   E os habitantes estão reconstruindo tudo, com a determinação e com a força baseada no instinto animal primário de sobreviver e continuar a vida. Como arquiteto, tive que me perguntar:  eu realmente consigo criar uma arquitetura que alcance as expectativas de pessoas com essa vontade vibrante de viver?", declarou.

   Além de Ito, Kumiko Inui, Sou Fujimoto e Akihisa Hirata ficaram responsáveis pelo programa, que é colaborativo e recebeu mais de 900 propostas.   As casas criadas pelo projeto deviam ter estruturas pequenas, mas oferecer um local confortável para o habitante.   Todos os projetos tinham de levar em conta as dificuldades para a evacuação de uma casa durante um desastre.  O primeiro protótipo foi finalizado no mês de outubro, em Sendai. "A ideia é que essas casas tragam conforto para quem teve que passar por um processo tão difícil e que moraram por muito tempo em abrigos temporários.   Podem ser utilizadas estruturas que ainda conseguiram ficar de pé ou serem construídas casas totalmente novas", disse Ito.

   Quando o visitante entrar no pavilhão japonês da Bienal, verá a exposição de projetos dos quatro arquitetos e das muitas propostas colaborativas recebidas de arquitetos e crianças.   Fora do pavilhão, como elemento final da exibição, haverá uma casa projetada pelo quarteto, que após o evento, será transportada para uma área afetada pelos terremotos no Japão.

   Fotografias de Naoya Hatakeyama que mostram como Kamaishi ficou após o desastre também serão exibidas na mostra, assim como o processo de reconstrução que foi iniciado pelos próprios moradores locais.

Divulgação: Toyo Ito
Planta da residência projetada para Sendai

Fonte: aU

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

A cortina de fumaça da segurança na USP

A atuação da polícia no campus da USP não é um problema sobre como adequadamente combater crimes comuns – é um problema sobre liberdades individuais e sobre a organização política da instituição

Por Pablo Ortellado [02.11.2011 16h28]
   A detenção de três estudantes da Faculdade de Filosofia da USP que fumavam maconha gerou protestos que terminaram num conflito com a polícia militar e a subsequente ocupação da administração da faculdade e do prédio da reitoria.   Esse episódio soma-se a outros ocorridos nos últimos anos que envolveram piquetes, a ocupação de prédios administrativos e a atuação repressiva da polícia militar. Em todos os casos, um acalorado debate opôs defensores da atuação (mais ou menos rigorosa) da polícia e defensores da autonomia universitária (que limitaria ou impediria a atuação policial no campus). Acredito, no entanto, que os termos do debate estão mal-colocados e a questão de fundo relevante, completamente ausente.

liberdades individuais
   O primeiro mal-entendido a se desfazer é que não há objeção, que eu conheça, à atuação limitada e específica da polícia para reprimir crimes comuns, como assaltos a banco.   Tanto não há objeção que antes do recente convênio firmado entre a reitoria e a polícia militar, ela já atuava nesses casos, sem que tivesse surgido qualquer tipo de protesto.
   Todo problema começa quando ela começa a atuar de maneira abusiva no cotidiano deste espaço que é o lugar por excelência da liberdade de expressão e discussão.   Para que essa alegação não pareça abstrata, gostaria de dar dois depoimentos e fazer referência a um terceiro.  Os meus dois depoimentos são do ano 2006, quando a administração da minha unidade (a Escola de Artes, Ciências e Humanidades) decidiu instalar um posto da PM dentro do campus.   Naqueles meses que se seguiram à decisão, testemunhei dois episódios que ilustram o despreparo da força policial para atuar no ambiente universitário (na verdade, esses dois episódios demonstram seu despreparo para atuar numa sociedade democrática).
   O primeiro, aconteceu com um estudante do meu curso, negro. No final da aula, ele saiu para o estacionamento e notou que tinha esquecido o celular.   Quando voltava para a sala para buscá-lo foi abordado por um policial.  Ele se identificou, apresentando a carteira de estudante e explicou que voltava para buscar o celular.  O policial considerou-o suspeito porque ele caminhava no sentido contrário dos outros estudantes (e talvez também porque era negro e estava na USP) e ele foi submetido a uma vexatória revista na frente dos seus colegas.  O segundo fato, foi a ação de uma policial feminina que deteve duas estudantes homossexuais que se beijavam na hora do intervalo por “atentado ao pudor”.   Note que esses são episódios testemunhados por um só professor, num período de poucos meses, pois, com a repercussão destes e outros casos, o posto da PM foi transferido para fora do campus.  O que acontecerá com a presença massiva de policiais com esse tipo formação atuando de maneira permanente?  Uma amostra do que está por vir aparece nos relatos de estudantes da Faculdade de Filosofia que reclamam de operações nas quais se abordam e revistam dezenas de estudantes que entram ou saem do prédio para ir às aulas.
   É esse tipo de atuação da polícia, abusiva e lesiva de direitos que gera protestos.   Não faz qualquer sentido discutir a atuação da PM no campus universitário fora deste tipo de caso.   A polícia nunca foi impedida de agir no campus para coibir crimes comuns.  O que havia, era um acordo para que a proteção do patrimônio fosse feita predominantemente pela guarda universitária e que a polícia não atuasse ostensivamente, por exemplo, fazendo abordagens individuais não motivadas por fatos concretos. Foi essa acordada limitação da atuação policial que se reviu, a pedido do reitor, após a comoção gerada pelo morte de um estudante durante um roubo de veículo.

liberdades políticas
   Mas o elemento importante, ausente no debate, é a ameaça de uso da força policial para reprimir o movimento estudantil e o movimento sindical.  Permitam-me uma breve digressão para argumentar como as duas coisas se juntam.
   Maquiavel, teórico da política, defendia numa obra famosa (Os discursos sobre a primeira década de Tito Lívio) que a causa da intensa e fratricida violência política da cidade de Florença era a não institucionalização dos seus conflitos.  Em Florença, dizia Maquiavel, cada partido (os guelfos e os gibelinos, os negros e os brancos, os nobres e o povo) consolidavam a vitória com a expulsão do partido adversário da vida política da cidade – de maneira que só restava ao grupo derrotado atuar de fora do jogo político estabelecido, preparando um golpe de estado.  O resultado era uma vida política violenta e sanguinária, sem estabilidade política e sem paz interna.
  Guardadas as grandes diferenças de contexto histórico, essa é uma excelente explicação para a conturbada vida política da Universidade de São Paulo.   Ao contrário das outras grandes universidades públicas, como a Unicamp ou as federais do Rio, Minas e Rio Grande do Sul, a gestão da USP é incrivelmente não democrática, o que, com os anos, empurrou todos os setores não alinhados com o grupo no poder para ação extra-institucional – simplesmente por falta de opção.  As eleições para reitor na USP são definidas por um colegiado de apenas 100 pessoas – dessas, há 1 representante dos professores doutores (que compõem a maioria dos docentes), 14 representantes dos estudantes e apenas 3 dos funcionários.  Os demais são representantes dos órgãos de direção que, com poucas exceções, se autoperpetuam no poder.  Todas as comissões estatutárias são compostas pelas mesmas pessoas que se alternam nas diferentes funções há décadas.  É um jogo marcado, viciado e sem qualquer espaço para que a comunidade de 80 mil alunos, 15 mil funcionários e 5 mil professores consiga se manifestar ou influir efetivamente nas decisões. Essa forma institucional excludente e arcaica empurrou as forças políticas para atuar por meio de greves, piquetes e ocupações de prédios, já que simplesmente não têm outra maneira efetiva de atuar.
   Para complicar ainda mais a situação, nem mesmo esses injustos procedimentos de eleição de reitor foram honrados, já que na última eleição o governador escolheu o segundo colocado na lista tríplice.  E esse segundo colocado, o reitor João Grandino Rodas, tem tido uma gestão fortemente confrontativa, impondo decisões injustas e ameaçando a dissidência com o uso de força policial.  Quando ainda era apenas diretor da Faculdade de Direito, o atual reitor usou a força policial para expulsar o MST do prédio da faculdade e, noutra ocasião, fechou o prédio e suspendeu as aulas para impedir que uma passeata de estudantes entrasse no edifício.  Ele também foi o principal articulador da entrada da polícia no campus para desocupar a reitoria, o que resultou numa abusiva ação policial que feriu professores e estudantes. Pois é exatamente este reitor que está agora autorizando a atuação ilimitada da polícia no campus o que, dado o seu histórico, não pode deixar de ser visto como uma ameaça do uso deste contingente para reprimir as únicas formas efetivas de atuação política do movimento estudantil e dos sindicatos.
   A atuação da polícia no campus da USP não é um problema sobre como adequadamente combater crimes comuns – é um problema sobre liberdades individuais e sobre a organização política da instituição.   A única solução para a conturbada vida política da universidade é a democracia.   O resto é apenas cortina de fumaça.
Fonte: Revista Forum

   Achei o texto bastante elucidativo para compreendermos as manifestações que estão ocorrendo na USP.
   Alberto Cohen Filho

Engenharia supera Medicina como curso mais concorrido da Fuvest

   O curso de Engenharia Civil de São Carlos superou o de Medicina e é o mais concorrido do vestibular de 2012 da Fuvest.   A lista com a relação entre o número de candidatos e de vagas foi divulgada nesta terça-feira. 

   Em 2011, a concorrência para Engenharia Civil era de 36 alunos por vaga.   Neste ano, a taxa é de 52.   Em Medicina, o crescimento na disputa foi pouco significativo: a média subiu de 49, em 2011, para 51, em 2012.   Publicidade e Propaganda, Relações Internacionais, Jornalismo, Artes Cênicas e Psicologia completam a relação dos mais concorridos. 

   Vale ressaltar ainda que a demanda de candidatos aumentou para ambos os cursos.   Em 2011, 13.545 alunos se inscreveram para concorrer a uma vaga em Medicina, enquanto a procura para o vestibular 2012 foi de 14.074.   Já o curso de Engenharia Civil de São Carlos passou de 2.191 inscritos, em 2011, para 3.136, em 2012. 

   O processo seletivo 2012 da Fuvest, responsável pelo preenchimento de vagas na Universidade de São Paulo e na Santa Casa, recebeu 146.885 inscrições – 10,47% a mais do que o registrado no ano passado. 

   As provas da primeira fase da Fuvest acontecem em 27 de novembro.   Serão aplicadas 90 questões de múltipla escolha.   As provas da segunda fase estão marcadas para ocorrer entre 8 e 10 de janeiro de 2012.   A lista de aprovados será conhecida em 4 de fevereiro.   Os convocados têm entre 8 e 9 de fevereiro para realizar a matrícula. 


Fonte: Instituto de Engenharia


   Nos anos 70 éramos a profissão mais valorizada, mais concorrida e mais prestigiada.   Que esta notícia seja o reflexo do nosso retorno como prioridade nacional.    


Engº. Alberto Cohen Filho

terça-feira, 1 de novembro de 2011

A esquerda que a direita gosta

(22.01.2004)   Ao ler, nos jornais, a declaração do Subsecretário do Tesouro dos EUA, de que a Casa Branca "aprova, com louvor, o Governo Lula", deixei de achar estranha a informação que recebi de que o George Bush, numa roda de governantes e diplomatas estrangeiros, ter comentado que gosta muito de Lula, apesar de ele ser de esquerda, condição que o próprio Lula faz hoje questão de negar. 

   Recordo-me do que, já há vários anos atrás, dizia o saudoso Darcy Ribeiro: "o PT é a esquerda que a direita gosta". Ele se referia, claro, às práticas de fazer muito barulho, ao radicalismo verbal, às aparência revolucionárias, encobrindo, afinal, práticas conservadoras, que mantêm, sob um aspecto "politicamente correto", as velhas estruturas de dominação que cativam o Brasil e seu povo.

   Não é, de fato, o que vem acontecendo?   Nosso país não vem cumprindo, e até além do que lhe exigem, as regras do capital financeiro internacional, do FMI e das multinacionais?   Não aumentamos o superávit, não pagamos todos os juros extorsivos, não continuamos a submeter nosso povo sacrifícios, em matéria de educação, saúde, serviços públicos e renda, tudo para honrar tais compromissos?   As empresas americanas, como recentemente recebeu a AES do BNDES, não continuam tendo condições favorecidas, mesmo quando não pagaram o que tomaram emprestado? 

   Ou será que afirmar nossa soberania, nossa dignidade se faz com pequenos incidentes, com situações espalhafatosas como as que vem sendo criadas com os turistas norteamericanos?   Não é de hoje que eles tratam, não apenas aos brasileiros, mas a muitos povos, com arrogância e excessos de exigências descabidas nos aeroportos, mas é uma puerilidade achar que a forma de reagirmos a isso é, simplesmente, fazermos o mesmo.   Puerilidade ou, pior ainda, uma cortina de fumaça para que, naquilo que é essencial, as relações econômico-financeiras, continuemos a ser dóceis como cordeiros, deixando que os frutos do trabalho de nosso povo e as riquezas do país se esvaiam pelos ralos de um sistema que nos condena à perda, onde ficamos mais pobres e dependentes em relação a eles.

   O Presidente Lula, agora em seu novo avião de US$ 70 milhões, vai continuar a correr mundo e colher aplausos nos salões do capitalismo internacional.   Um ex-operário, que nega agora ser de esquerda, é, sem dúvida uma atração que nada fica a dever ao antigo sociólogo esquerdista que tornou-se o príncipe do neoliberalismo. 


Leonel Brizola 
Presidente Nacional do PDT 
Fonte: Portal PDT